domingo, 13 de junho de 2010

Menina dos olhos cinza.


Uma lágrima cai, lágrima dos olhos de uma doce menina.
Sentada debaixo de uma árvore, a tranquilidade era absoluta, e essa tranquilidade? Era tudo o que precisava naquele momento.
Em seu rosto, sardas, covinhas, e um óculos, óculos que usara para ler seu livro novo, que por sinal, era seu único amigo presente.
O verde lhe cercava, o cenário era perfeito para refletir, porém ...Refletir o que?Em sua cabeça, se confundiam ideias malucas, sonhos impossíveis, desejos estranhos...
O que ela realmente queria? A eterna incógnita.
Sempre rodeada de amigos, levava uma vida perfeita, no entanto, o perfeito não existe.
Com aqueles cabelos ruivos e olhos cinza, que por sinal era o que mais chamava atenção...Seus lindos olhos cinzas. Neles se escondiam sentimentos, vontades, tudo o que ocultava por mera vontade, pois não tinha medo de palavras nem gestos, sempre impunha suas opiniões. Isso fazia seus segredos cada vez mais instigantes.
Com personalidade forte, o sorriso estava sempre ali, nem sempre era sincero .
Fazia questão de emitir uma imagem positiva aos demais, não achava justo que fossem alvo de desconto das suas inseguranças.
Sempre teve tudo nas mãos, tudo o que parecia importante, e hoje ? Não, não passam de meros bens materiais.
O livro que lhe acompanhava, contava uma história fictícia, em que as coisas simplesmente aconteciam da maneira mais fácil possível. Ela se identificava com o conto? Não! Não? Mas suas vontades não eram supridas tão facilmente quanto as da ficção? Seus olhos cinza diziam que não.
Mas, o que faltava? o que a deixava tão cheia de duvidas? Era o grande mistério que estava em seus olhos cinza.
Olhando o sol se pôr, tão bonita paisagem, se deitou em um amontoado de folhas, com seu livro nas mãos, fechou seus olhos e adormeceu durante alguns minutos.
Foi quando sentiu seu livro se mexer, despertou rapidamente, assustada, e ao se levantar,deparou-se com olhos curiosos de uma garotinha.
Quem era? o que fazia sozinha naquele lugar tão distante ?
As duas se olharam por segundos, os olhos cinza da doce menina ruiva, encontrou com os olhos castanhos escuros, que podiam até se confundir com olhos negros , olhos que se refletia um brilho incomparável . Eram de uma pequena garotinha, de cabelos loiros repletos de cachinhos, traços tão delicados quanto seu sorriso !
Seu sorriso? A tão angelical garotinha sorriu ao dizer:
- Que lindos seus olhos cinza moça!
Ao se levantar lentamente, um outro sorriso se fez presente , dessa vez , aquele com covinhas.
-Obrigada, mas... Quem é você? O que faz sozinha aqui?
-Nada moça, estava passando e te vi, seu cabelo vermelho me chamou atenção, curiosa como sou, quis me aproximar.
Uma expressão de tédio logo veio ao rosto da ruiva, que com voz sonolenta disse:
- O que eu mais queria nesse momento, é ficar sozinha garotinha.
- Sozinha? Porque sozinha moça? Você é sempre tão alegre, tão irreverente...
- Sou sempre tão alegre? Me conhece?
- Não moça, não te conheço, mas posso ler seus olhos cinzas .
- Como assim garotinha? Você esta deixando confusa.
- Não é minha intenção moça, só não quero que fique aqui sozinha.
- Mas porque esta preocupada comigo? Eu não quis sair com meus amigos justamente para ficar sozinha aqui!
- É, eu sei moça.
- Você sabe?
- Não, não sei, desculpa, me confundi.
- Quem esta confusa aqui sou eu garotinha.
Afinal, que conversa era aquela? A menina ruiva não fazia questão nenhuma de saber, só queria estar afastada do mundo por um tempo, pelas quais razões? Ninguém sabia.
Já a jovem garotinha com seus olhos curiosos, insistia em falar:
- Moça, você já parou para pensar que você esta se afastando de todos e de tudo? Que quando se der conta, vai ter perdido a intimidade com seus amigos, momentos que eles passaram sem você!
O motivo que esta perturbando você realmente vale a pena moça? Eu não consigo entender gente grande, tem tudo e faz parecer que não tem.
De onde eu vim, as pessoas dão valor a tudo, pois não tem quase nada.
Todo dia é uma batalha!
Meus pais brigavam muito, e eu sempre estava no meio, eles não se importavam.
Meu pai era policial, batia em mim e na minha mãe, dizia que nos mataria, e... Porque não matou? Não sei. Talvez o sofrimento acabasse cedo.
Abandonou minha mãe, que tudo que tinha , largou por ele.
Já dormi cedo para fugir da fome, dormi para não presenciar o choro de minha mãe...
- ESPERE! Exclamou a dona das sardinhas, interrompendo, assustada:
- Você é uma criança, tão cedo já tem esse domínio das palavras, tão cedo que passou por essa dificuldade? Você esta inventando isso garotinha!
E... Porque esta falando tudo isso? Porque esta aqui?
Eu já estava confusa, mas agora... Não sei o que pensar, quem é você?
- Que diferença faz moça? Esta com medo de mim?
- Por incrível que pareça não. Seus olhos, seus olhos...
Seus olhos me passam uma verdade tão inocente, quase me fazem acreditar nas suas palavras.
- E porque não acredita moça?
- Porque não! Não é verdade.
- Porque custa a acreditar que nada é perfeito? Só porque a vida já te derrubou, não quer dizer que ela não queira te dar a mão.
Não se culpe se acreditou em pessoas que te enganaram, ou se sofre a cada lembrança, se fracassou em tentativas, se te decepcionaram, se pensou que algo era pra sempre, ou se você perdeu o controle dos sentimentos.
O que te atormentas? Eu sei que isso esta te fazendo mal, não tenha medo de demonstrar.
Olhe ao redor, todas suas conquistas. Você nasceu para brilhar, brilhar como seus olhos cinza.
Pense em tudo que já conseguira, pense em tudo que tens.
Isso não basta para passar por cima de suas angustias moça?
Moça? Moça? Porque se calou?
Outra lágrima voltou a cair dos olhos cinza.
Calada, abraçou a pequena garotinha que sussurrou:
- O mistério esta em seus olhos cinza, não se esconda neles.
Ao fim do abraço, um colar caiu ao colo da moça. Moça? já parecia familiar chamá-la assim.
Ao pegar o colar, de cabeça baixa leu uma frase que nele estava escrito.
“Si tu crees, todo és posible “ .
Levantando sua cabeça, disse:
- Garotinha, deixou seu colar cair... Garotinha? Garotinha? Esta se escondendo de mim?
A menininha dos cachos dourados como os raios do sol, não estava mais ali.
Mas deixou um pequeno bilhete na primeira página do livro da doce menina. Menina? Ela já sentia falta de ouvir “moça”.
O bilhete com letras de forma, dizia:
“Não queira enxergar somente o que te convêm!
Nada é por acaso, pessoas, raivas, são passageiras, não deixe para trás o que realmente te faz feliz a cada dia.
As vezes, o mal vem para o bem. Vem para nos deixar mais fortes ! a gente que muitas vezes não consegue enxergar.
E, moça... Não revelarás seu segredo?
O que te falta? Um amor? Um abraço? Um olhar? Um lugar? Um objeto raro?
Sei, sei que não é nada material. Seus olhos cinza me disseram que não.”
Será que agora, ela nos conta seu maior desejo? O que a faria feliz por completa, o que deixaria de lado aquela vontade de largar tudo?
Não, não? Porque não?
Porque aquele segredo, pertencera somente aos seus olhos cinza.

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